sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Rampa íngreme: apresentando em Bomserá e Agro-vila





    Chegamos em Aliança no dia 24 de novembro, aportamos próximo a draga Tubarão, o que chamou a atenção do grupo - fato que já tinha sido comentado antes de chegarmos por Chicão - foi a rampa que dava acesso a comunidade, uma subida íngreme, que devido a chuva estava enlameada, dificultando um tanto o acesso. Nos dividimos em dois grupos, um que iria até Bomserá formado por Chicão Santos, Sidnei Oliveira, Léo Carnevale, Márcio Silveira, Samir Jaime e o barqueiro Marcelo, que foram de voadeira. E outro que ficaria para subir o barranco até Agro-vila, formado por Nivaldo Motta, Sidnei Dias e Thallisson Lopes. 
As apresentações ocorreram na Escola Municipal de Ensino Fundamental Alzira Falcão (em Bomserá), e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Angélica (em Agro-vila). Particularmente nos encantamos com a simplicidade das escolas, que funcionam em casas de madeira, a de Bomserá coordenada pelo Professor Ednei Monteiro de Oliveira, tinha apenas uma sala com 8 alunos, segundo o professor Ednei este tipo de trabalho que está sendo realizado pelo Banzeirando, tem valorizado o Baixo Madeira, trazendo apresentações interessantes que atiçam a curiosidade das crianças, e que tal projeto chama atenção a utilização do teatro enquanto ferramenta de ensino, um trabalho realmente gratificante.


Em Bomserá Léo Carnevale iniciou sua performance de modo sutil, o que permitiu uma troca de energias que crescia conforme a participação das crianças, o que as deixou mais a vontade. Elas quase saiam das cadeiras para que Léo as visse e chamasse para o próximo numero, principalmente o Wesley, Wesdra e Ana Kelly. Os olhares das crianças mostravam o quanto o teatro pode ser de importância na dinâmica do ensino-aprendizagem.
Um fato que mais tarde foi comentado por Márcio Silveira é que, quando o grupo de Bomserá chegou na apresentação em Agro-vila, Nivaldo estava atrás de uma grade da janela da escola, esperava as meias que havia esquecido no barco e que Sidnei Dias foi buscar de bicicleta - emprestada por um aluno da escola - Léo já estava se apresentando e Márcio fotografava. Nivaldo continuava lá, um palhaço, a arte presa atrás das grades, tentando ir para rua para transformar a si e a sociedade. De repente o Xodó chamou o Dorminhoco, este diz que está preso e brincam com esta idéia. Dorminhoco passa de uma janela gradeada para outra até sair pela porta da frente e seguem as cenas.

Após as apresentações, retornamos para o barco, por outro caminho, um percurso menor, que foi feito de voadeira. A noite, em conversa com o grupo, Nivaldo se emocionou, segundo seu relato: 
"Cara, hoje de manhã naquela escola tive uma experiência inesquecível! Deu longa pausa chorando, respirou e continuou dizendo o seguinte: - Eu tava já pronto de Dorminhoco, na cozinha esperando a deixa do Léo pra entrar em cena, quando de repente levei um baita susto com alguém me agarrando as pernas e apertando com força quase me derrubando no chão. Olhei ligeiro e vi uma menininha muito pequena agarrada nas minhas pernas na altura dos joelhos. Ela me olhava com olhar de surpresa e alegria e me perguntou: - Tu é de verdade? Rapaz, aquilo me arrepiou! Me passou pela cabeça tudo que tu possa imaginar. Enquanto respondia que sim, me perguntava qual seria a referencia daquela menina sobre palhaço. Com certeza ela nunca viu um na vida, só pela televisão ou livros de colorir. Eu tava ali, real, verdadeiro. Então comecei a entender mais ainda a importância deste projeto, do que estamos fazendo aqui no norte do Brasil, dentro da Floresta Amazônica. Eu ralo pra caramba cara. Trabalho muito com teatro, humor, performance, palhaço, TV, palestras. Tem a Fetam (Federação de Teatro do Amazonas) que me dedico muito também. Às vezes não sou tão valorizado, até minha filha não dá tanto valor ao que faço, justamente por não ter esta noção, o valor desta vida que levamos. To muito feliz com tudo isso cara".




E nossa jornada está apenas começando, muitas localidades para visitar, vivências cheias de surpresas, este é o Baixo Madeira, formado de pessoas únicas e costumes ímpares que nos ensinam muito.

Banzeirando, a jornada continua...

2 comentários:

  1. Nossa, que lindo relato!!!
    Nivaldo, quanta emoção, meu amigo!! Estou emocionada por aqui tbm...
    Bjs em todos, galera!
    Suani

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  2. Eita trabalho gostoso! assim é que é bom. amo vcs! xero a todos

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